Luteranos e reformados

Luteranos e reformados

Apesar de toda a conformidade que há entre elas – que se estende até mesmo à confissão da predestinação — houve, desde o princípio, uma importante diferença entre a Reforma alemã e a suíça.

As diferenças nos países e nas pessoas em que Lutero e Zwínglio desempenharam seu papel, as diferenças entre os dois quanto à origem, formação, caráter e experiência contribuíram para separar seus caminhos. Não demorou muito para se tornar evidente que os dois reformadores tinham opiniões diferentes. Em 1529, em Marburg, um acordo tinha sido feito — mas somente no papel. E quando Zwínglio morreu e Calvmo, apesar de sua elevada consideração pela abordagem conciliatória de Lutero em relação à doutrina da Ceia do Senhor, basicamente se colocou ao lado de Zwinglio, a divisão entre o Protestantismo luterano e o reformado se aprofundou e se tornou um fato que não pôde mais ser negligenciado.

As pesquisas históricas sobre as diferenças características entre eles em anos recentes demonstraram claramente que, na base da separação, há uma diferença de princípio. Em épocas passadas, os eruditos simplesmente resumiam as diferenças dogmáticas sem reduzi-las a um princípio comum. Max Goebel, ao contrário, foi o primeiro a produzir uma explicação histórica e fundamental da diferença entre eles. Desde então, várias pessoas – Ullmann, Semisch, Hagenbach, Ebrard, Herzog, Schweizer, Baur, Schneckenburger, Guder, Schenkel, Schoeberlein, Stahl, Hundeshagen, para mencionar apenas alguns — continuaram essa pesquisa.

A diferença parece ser melhor comunicada dizendo que o cristão reformado pensa teologicamente, e o luterano, antropologicamente. A pessoa reformada não se contenta com um ponto de vista exclusivamente histórico, mas eleva seus olhos para a ideia, para o eterno decreto de Deus. Em contraste, o luterano toma sua posição no meio da história da redenção e não sente necessidade de entrar mais profundamente no conselho de Deus. Para o reformado, portanto, a eleição é o coração da igreja; para o luterano, a justificação é o artigo pelo qual a igreja fica de pé ou cai. Entre os reformados, a questão primária é: Como a glória de Deus pode ser promovida? Entre os luteranos, a questão é: Como o ser humano obtém a salvação? A luta dos reformados é, acima de tudo, contra o paganismo — idolatria; a dos luteranos, contra o Judaísmo — justificação pelas obras. O reformado só descansa quando consegue seguir o curso de todas as coisas retrospectivamente até chegar ao decreto de Deus, indo ao encalço do “motivo” das coisas, e, prospectivamente, fazer todas as coisas serem subservientes à glória de Deus; o luterano se contenta com o “o que” e desfruta a salvação da qual ele, pela fé, é um participante.

A partir dessa diferença de princípio, as controvérsias dogmáticas entre eles com respeito à imagem de Deus, pecado original, pessoa de Cristo, ordem da salvação, sacramentos, governo eclesiástico, ética, etc.) podem ser facilmente explicadas.

Herman Bavink

In: Dogmática Reformada

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