Unidade na Verdade: Por que lemos a mesma Bíblia e chegamos a conclusões diferentes?

Unidade na Verdade: Por que lemos a mesma Bíblia e chegamos a conclusões diferentes?

“Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” — João 17:17

Ao longo da minha caminhada pastoral e teológica, tenho sido frequentemente confrontado com a seguinte questão: “Como é possível que arminianos e calvinistas, ambos sinceros, leiam a mesma Bíblia e cheguem a conclusões tão diferentes?” Esta pergunta, legítima e honesta, muitas vezes é usada por seitas como os mórmons e as Testemunhas de Jeová para afirmar que o cristianismo é confuso e contraditório. No entanto, essa análise rasa não resiste à luz da revelação bíblica e da história da Igreja. A diversidade interpretativa dentro do cristianismo ortodoxo não é um defeito, mas um reflexo da profundidade e riqueza da Palavra de Deus.

Sim, existem muitas visões dentro do cristianismo. Mas é necessário fazer distinção entre diferença e divisão, entre heresias destruidoras (2Pe 2.1) e divergências legítimas entre irmãos salvos pela graça, todos debaixo do senhorio de Cristo. E por que há tantas interpretações? A resposta passa por, ao menos, quatro aspectos.


1. Tradições e Formações Doutrinárias

Desde cedo, somos ensinados a ler a Bíblia a partir de um conjunto de pressupostos herdados de nossas comunidades de fé. Um católico romano verá Maria à luz da tradição do magistério e dos dogmas. Um calvinista tenderá a ler as Escrituras à luz da TULIP. Um arminiano clássico buscará ver em todas as páginas a revelação do amor universal de Deus e a responsabilidade humana.

Jesus advertiu: “Assim invalidais a palavra de Deus pela vossa tradição” (Marcos 7:13). As tradições humanas, mesmo bem-intencionadas, podem obscurecer a verdade bíblica se forem colocadas acima da Escritura.


2. Cegueira Espiritual e Iluminação Progressiva

A Palavra de Deus é clara quando afirma que o homem natural não compreende as coisas do Espírito (1Co 2:14). Paulo diz que “o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos” (2Co 4:4). Não se trata apenas de ignorância, mas de uma resistência espiritual à verdade.

Mesmo entre os salvos, a compreensão da verdade é um processo de iluminação progressiva (Ef 1:17-18). Todos estamos crescendo “na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 3:18). Nem todos estão no mesmo estágio dessa caminhada.


3. Orgulho Humano e Apego a Sistemas

Quantos de nós já não resistimos à verdade clara da Escritura por não querermos admitir que estivemos errados? O orgulho é uma barreira poderosa contra a revelação. “Antes da ruína, eleva-se o coração do homem, e diante da honra vai a humildade” (Pv 18:12).

Eu mesmo, por anos, defendi a chamada “oração do pecador” como forma legítima de conversão. No entanto, ao me debruçar mais atentamente sobre os evangelhos e o livro de Atos, percebi que o padrão apostólico de resposta ao evangelho envolve arrependimento e batismo (At 2:38), não fórmulas verbais. Admitir isso exigiu humildade e arrependimento.


4. Preconceitos Teológicos e Ponto de Partida

Todo intérprete da Bíblia se aproxima do texto com um “óculos”: seu contexto cultural, sua formação teológica, sua experiência pessoal. Um cristão que vive em meio à perseguição, como na Nigéria ou na Índia, talvez leia Apocalipse 13 com lágrimas nos olhos e não com especulações escatológicas.

No debate entre calvinistas e arminianos, o ponto de partida influencia profundamente a leitura. O calvinista enxerga a soberania de Deus como eixo interpretativo absoluto. O arminiano parte da revelação do amor de Deus e da responsabilidade humana como pilares centrais.

Para o calvinista, Romanos 9 fala de eleição incondicional. Para o arminiano, Romanos 9–11 mostra que a eleição é pela fé (Rm 11:20-24), e que Israel não foi rejeitado, mas que a inclusão se dá condicionalmente, pela resposta humana à graça divina (cf. Rm 10:9-13).


Conclusão: A Escritura, acima de tudo

A Escritura é suficiente (2Tm 3:16-17). Nosso dever é nos despir de todo preconceito, orgulho e tradição que obscurece a verdade. Precisamos voltar ao texto, guiados pelo Espírito, usando as ferramentas da boa exegese, respeitando o contexto e permitindo que a Bíblia interprete a Bíblia.

Não seguimos Calvino, nem Armínio, mas a Cristo. Os dois foram servos úteis, mas falíveis. A nossa regra de fé é a Escritura Sagrada. Oro para que todos nós sejamos, como os bereanos, cristãos que “examinavam cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim” (At 17:11). Que sejamos humildes, firmes na verdade e dispostos a mudar sempre que a Palavra nos confrontar.

Fonte: The Society of Evangelical Arminians


Soli Deo gloria
Franco Júnior

 

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