Aconselhamento pastoral

Aconselhamento pastoral

Dentre as principais formas de aconselhamento cristão, sinto um apreço pela metodologia noutética. O termo “Noutético” é derivado de uma palavra grega que significa “por em mente” (formado de nous, “mente”, e tithemi, “pôr”). O aconselhamento noutético seria então aquele que direciona, ensina, exorta, confronta o aconselhando com os princípios bíblicos. O seu fundamento está na máxima reformada “Sola Scriptura”, e não poderia ser diferente, já que o principal teórico do aconselhamento noutético é Jay Adams. Ele foi o deão do Instituto de Estudos Pastorais e professor de teologia prática no Seminário Teológico Westminster, na Filadélfia, Estados Unidos; graduado com especialização em homilética e oratória; também pastoreou vários ramos da Igreja Presbiteriana da Pensilvânia e Nova Jérsei.

No entanto, vemos o uso de “nouthetéo” nos escritos paulinos. Sempre que o termo aparece, está estritamente associado a uma intenção pedagógica (Atos 20.31, Romanos 15.14, 1 Coríntios 4.14, Colossenses 1.28 e 3.16, 2 Tessalonicenses 3.15 e Tito 3.10). Pode-se afirmar, também, que a teoria noutética se baseia na confrontação de Natã com Davi, depois do pecado que este cometeu contra Urias e Bate-Seba (2Samuel 12).

De acordo com a noutética, o aconselhamento se dá em confrontação com a Palavra. Visando não apenas uma mudança comportamental, ele vai um pouco mais fundo e visa a transformação da cosmovisão, dando as “lentes da Escritura” ao aconselhando. O objetivo da noutética é levar o homem à viver em conformidade com a Lei do Senhor. A santificação, portanto é o resultado final que os adeptos do aconselhamento noutético desejam alcançar.

Algumas pessoas consideram que a teoria noutética é desumana em alguns pontos, pois sua aplicação seria apenas para que a pessoa aconselhada reconhecesse a sua vida pecaminosa, não se importando com as questões cruciais do ser humano. Afirmam também que ela apenas lança luz aos erros, repreende, mas não encoraja. Todavia, não concordo com tal crítica, pois vemos Jesus utilizar dessa técnica com muito amor e mansidão aos discípulos no caminho de Emaús.

Esta narrativa registrada em Lucas 24: 13-35, mostra dois seguidores de Jesus voltando de Jerusalém muito desanimados após a crucificação de Jesus. Eles estavam frustrados e murmuravam pelo caminho. O Mestre se aproxima, só que eles não o reconheceram. Cristo os instiga a falar. Ouve suas queixas. Se mostra solidário. Mas num determinado momento, Jesus os confronta com as Escrituras e demonstra através de textos veterotestamentários que estes não deveriam se entristecer. O efeito foi tão positivo que os dois homens convidaram o peregrino a cear com eles. Naquele contexto era uma clara demonstração de intimidade, o que mostra que estes ficaram muito à vontade com o “estranho peregrino”. Quando o pão é partido, o Cristo ressurreto se manifesta e os dois discípulos, antes tristes e abandonando o Evangelho por pensar que a cruz tinha posto fim a tudo, voltam para Jerusalém, agora felizes, esperançosos, compondo a Igreja do Senhor.

De igual modo, no já citado exemplo de Davi confrontado por Natã, vemos que o profeta foi bem didático e sutil em sua confrontação e fez com que Davi conhecesse o próprio erro, sem precisar dizer isso. O resultado foi o melhor possível, pois levou ao Rei uma atitude de humilhação diante de Deus.

Outra acusação é a de que a noutética descredencia a Psicologia. Logicamente devemos considerar que a Psicologia tem seus méritos e deméritos, pois a linha freudiana da psicanálise, mais comum e mais utilizada, está repleta de valores antibíblicos. Isto posto, é preferível ficar com a Palavra que é inspirada e inerrante, útil para o ensino da justiça (2Timóteo 3:16).

Por último, tem o problema de que nem todos são cristãos e creem na Palavra, sendo assim, não deveria ser usado no aconselhamento de pessoas incrédulas. Discordo veementemente, pois o texto sagrado é possuidor de uma sabedoria milenar, aplicável a diversas áreas da vida humana. Podemos aplicar valores bíblicos para tratar de negócios, família, complexos, etc. Ademais, também seria uma oportunidade ímpar para anunciar a mensagem libertadora do Evangelho. Como está escrito:

Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão, e nunca servimos a ninguém; como dizes tu: Sereis livres? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado. Ora o servo não fica para sempre em casa; o Filho fica para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” – João 8:31-36

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