Como deve ser a remuneração de pastores e funcionários da igreja?

Como deve ser a remuneração de pastores e funcionários da igreja?

Um fator a considerar quando decidir qual o número de funcionários que sua igreja deve contratar é a simples matemática de quanto você paga a eles. Você deve buscar uma remuneração mais baixa para poder contratar mais funcionários? Quais são as consequências espirituais de remunerar a mais ou a menos a sua equipe?  Deixe-me sugerir dois princípios para guiar sua filosofia de remuneração.

REMUNERAÇÃO E GENEROSIDADE

Todas as vezes que o Novo Testamento aborda o apoio financeiro à equipe da igreja e missionários, há ênfase na generosidade.  

  • “Mas aquele que está sendo instruído na palavra faça participante de todas as coisas boas aquele que o instrui. (Gl  6.6, grifo nosso). 
  • “Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino.” (1Tm  5.17, grifo nosso). 
  • Encaminha com diligência Zenas, o intérprete da lei, e Apolo, a fim de que não lhes falte coisa alguma. (Tt 3.13, grifo nosso). 
  • os quais, perante a igreja, deram testemunho do teu amor. Bem farás encaminhando-os em sua jornada por modo digno de Deus; (3Jo 1.6, grifo nosso).

Não seja mesquinho com a remuneração de sua equipe. Qual o benefício que a igreja terá se seu pastor tiver que ficar preocupado com suas finanças? Também é possível ser excessivamente generoso. Um pagamento exorbitante é uma mordomia ruim e pode distorcer as motivações de um pastor para o ministério. Afinal, ele deve ser alguém que “não busca o lucro desonesto, mas deseja servir” (1Pe 5.2).

Então, o que constitui um pagamento generoso, mas não exorbitante? Tal como acontece com a beleza, parece que “generoso” está nos olhos de quem vê. Como tal, a exortação de Paulo em Tito 3.13 é um bom resumo do pagamento apropriado: “…a fim de que não lhes falte coisa alguma.” Você não deve tentar fornecer à sua equipe tudo o que eles poderiam desejar. Mas você quer fornecer o suficiente para que um pastor ou membro da equipe não perca seu foco no ministério por causa de preocupações financeiras.

Como você pode ter certeza de que sua equipe não está necessitando de nada nesse sentido? Eu recomendo cinco pontos de diferentes dados que podem orientar suas decisões acerca de remuneração.

Primeiro, considere as referências fora da igreja.

Como são pagos os funcionários públicos? Semelhante aos pastores, muitos funcionários públicos concordaram em trabalhar por menos dinheiro do que poderiam ganhar na iniciativa privada. No entanto, como uma igreja, seus empregadores não querem que eles sejam forçados a entrar no setor privado por falta de dinheiro. Você pode encontrar uma comparação útil observando a remuneração de um diretor de escola local ou delegado de polícia ou a tabela salarial do setor público. (Nota do Editor: Leitor, leve em consideração que o autor fala de um contexto americano).

Você também pode olhar para igrejas como referência. Como outras igrejas pagam sua equipe? É claro que as igrejas geralmente não são conhecidas por serem generosas quanto a remuneração. Não presuma que, em termos de referência, todas ou mesmo a maioria das igrejas estejam sendo fiéis na remuneração de sua equipe. Considere ser útil trocar informações sobre remuneração com algumas igrejas que você confia em sua região.

Considere qual seria o custo de substituição para esse cargo. Se um membro da equipe saísse, você precisaria aumentar (ou diminuir) o tamanho do salário e benefícios para atrair alguém que faria o trabalho em condições equivalentes? Então provavelmente você não está pagando o valor real do trabalho e deve considerar revisar o que está pagando a equipe.

Em quarto lugar, procure um modelo de orçamento pessoal. O que constitui um orçamento familiar sustentável em diferentes fases da vida em sua localidade? Faça essa pergunta a várias pessoas na casa dos cinquenta e sessenta anos, pois aqueles que são mais jovens podem não entender totalmente o que realmente significa sustentar uma família, e os mais velhos podem não se lembrar mais. Por que fazer isso se você está pagando os funcionários com base em seus trabalhos e não nas necessidades deles? Porque a remuneração não é um processo puramente dedutivo e você deve verificar o valor do trabalho em relação a um nível típico de necessidade. [1]

Finalmente, tenha algumas conversas honestas. Certifique-se de que alguém na liderança de sua igreja converse regularmente com sua equipe sobre como a remuneração está servindo a eles e a suas famílias. Eles sentem que há paridade na equipe? Eles estão encontrando dificuldades no ministério por falta de dinheiro? Leve esse feedback em consideração e com todo o cuidado.

Essa curta frase em Tito 3 é extraordinariamente poderosa para resumir essas metas de remuneração: “…a fim de que não lhes falte coisa alguma”. Pagar seu pastor é uma das coisas mais importantes que o orçamento de sua igreja pode fazer. Assim, a menos que sua congregação realmente não tenha dinheiro, uma de suas principais prioridades orçamentárias deve ser pagar um pastor e garantir que sua remuneração seja uma ajuda para seu ministério. Se for para errar, que seja para mais do que para menos.

Remuneração do pessoal administrativo

Acho interessante que a justificativa de Paulo para pagar os pastores em 1 Timóteo 5.18 não se baseia em seu ofício, mas em seu trabalho: “O trabalhador é digno do seu salário”. Sendo assim, esse princípio oferece fundamento tanto para pagar funcionários administrativos como pastores. Isso implica que você deve pagar-lhes aquilo que vale o trabalho deles, não o quanto você acha que eles precisam.

Mas as pessoas que trabalham para uma igreja não deveriam ganhar menos dinheiro? Não. Se o trabalhador merece seu salário, ele merece o que o seu trabalho vale. Avaliar quanto “vale” seu trabalho pode ser complicado para um cargo pastoral, mas é comparativamente simples para um cargo administrativo.

Como os cargos administrativos geralmente são semelhantes aos cargos em outras organizações e empresas sem fins lucrativos, você pode descobrir que as pesquisas salariais feitas pelo governo são um bom guia. Algumas igrejas em dificuldades podem não ser capazes de pagar de acordo com o mercado de trabalho por um determinado tempo. Porém, a longo prazo, ajuste o tamanho da sua equipe para caber no orçamento disponível.

REMUNERAÇÃO E CONFIANÇA

Além da generosidade, leve em consideração a importância da confiança. Vários anos antes de começar a trabalhar como pastor em minha igreja, servi na comissão de remuneração da congregação. Fiz isso enquanto trabalhava em uma carreira no mundo empresarial, sem ter ideia de que o salário que estava ajudando a definir um dia seria o meu também. Estou na posição ímpar de ter elaborado um plano de remuneração da igreja da qual agora vivo! Uma lição que aprendi com essa transição – de leigo para pastor que está em uma equipe – é a vulnerabilidade inerente de trabalhar para uma igreja.

Por analogia, considere a diferença entre trabalhar para uma grande corporação e   trabalhar para a pequena empresa de seu pai. Ambas as situações envolvem confiança – mas a confiança em uma empresa familiar é diferente porque o relacionamento se estende além dos negócios.

Quando trabalhei no mundo empresarial, meu empregador esperava que eu cuidasse de mim mesmo e negociei minha remuneração com isso em mente. Mas quando comecei a trabalhar para minha igreja, a dinâmica mudou. Era mais como trabalhar para o negócio da família. Claro, discutimos minha remuneração antes de aceitar o trabalho, mas não da maneira despreocupada que se espera no mundo com fins lucrativos. O acordo implícito, agora que trabalho para minha igreja, é que gastarei minha energia por eles – e que eles cuidarão de mim. Quando essa vulnerabilidade é mantida em confiança, cria-se um relacionamento de trabalho maravilhoso entre um pastor e sua igreja.

Como igreja, mantenha essa confiança com cuidado. Uma maneira de fazer isso caso não trabalhe para uma igreja é entender como funciona o pacote salarial de sua igreja. Você conhece os encargos tributários e os benefícios de um cargo pastoral? Você sabe quanto o salário do seu pastor aumentou nos últimos cinco anos em relação à inflação? Você sabe como sua igreja calcula a moradia do seu pastor (que nos EUA tem tratamento tributário especial)? Você está seguro de que os funcionários são pagos em paridade uns com os outros, considerando mérito, experiência e educação? Se a sua resposta geral for “esses detalhes não são do meu interesse” ou “é função do meu pastor levantar quaisquer problemas com a remuneração”, eu o desafiaria a saber se você compreende plenamente o lugar vulnerável que a equipe da sua igreja ocupa.

Remuneração de funcionários em dificuldades financeiras

O que uma igreja deve fazer quando sua própria equipe está com dificuldades financeiras? É importante nessas situações ter em mente o princípio que descrevi anteriormente em 1 Timóteo 5, de que é o trabalho de uma pessoa que a torna digna de pagamento. Aqui estão algumas perguntas a serem feitas quando sua equipe estiver em dificuldades financeiras:

  1. Isso é nossa culpa?

A igreja está pagando menos pelo trabalho que recebe? Nesse caso, a igreja pode fornecer um bônus para remediar esse erro, além de corrigir a remuneração. O nível de necessidade de um membro da equipe não é inaplicável para esta tarefa: somente em situações incomuns (como com um estagiário, por exemplo) uma igreja deve contratar um membro da equipe sabendo que a remuneração não será suficiente para atender às suas necessidades.

  1. Eles estão no cargo errado?

Você não deve aumentar a remuneração simplesmente porque as necessidades de uma pessoa aumentaram. Pode ser que as necessidades dessa pessoa sejam simplesmente mais do que esse cargo pode suportar. Nesse caso, você pode ajudá-las a aprimorar suas habilidades para que possam fazer a transição para um trabalho diferente.

  1. As finanças estão sendo mal administradas?

Talvez o problema financeiro tenha ocorrido porque um membro da equipe não administra bem seu dinheiro. Isso pode ser motivo para: (a) questionar se um pastor é desqualificado para o cargo por deixar de “governar bem sua própria casa” (1Tm.3.4); e/ou (b) ensiná-los sobre gestão financeira.

  1. Eles precisam de ajuda financeira temporária?

Se o fizerem, ajude-os de uma forma que não comprometa sua dignidade ou respeito. Certifique-se, no entanto, de deixar claro que isso é assistência e não remuneração, para não confundir o princípio de Jesus de que o trabalhador é digno de seu salário [2]. Como acontece com qualquer uso de fundos de assistência, essa é uma boa solução de curto prazo, mas não uma solução viável de longo prazo.

 

 


[1] Três observações sobre remuneração: (1) Não presuma que só porque um pacote de remuneração funcionou para o predecessor de uma pessoa, funcionará para ela também. Pessoas diferentes têm necessidades diferentes (digamos, problemas de saúde específicos ou família que precisam cuidar em um país diferente). (2) Algumas igrejas começam com uma referência e depois subtraem o que um membro da equipe teria dado à igreja em dízimos e ofertas, supondo que é mais eficiente em termos de impostos não pagar isso a eles em primeiro lugar. Não faça isso! Uma vez que dar é uma das finalidades para renda (Ef 4.28) e os pastores devem ser exemplos para o rebanho (1Pe 5.3), não os prive da alegria de dar simplesmente porque eles trabalham para uma igreja. (3) Mesmo que seu pastor seja solteiro, é sábio considerar as necessidades com base nas necessidades de uma família. Afinal, ele pode um dia ter uma família ou, mesmo que não tenha, seu substituto pode ter. Não pague menos apenas por causa do estado civil de seu pastor.

[2] Uma separação entre assistência e remuneração é importante em sua comunicação com a equipe, mas os dois podem ser indecifráveis por razões fiscais. Muito provavelmente, a assistência a um funcionário será vista pelas autoridades fiscais como receita tributável.

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