Seis tendências evangélicas anti-igreja

Seis tendências evangélicas anti-igreja

Frequência à igreja nos Estados Unidos sempre foi algo que varia muito. Não é correto dizer que a frequência à igreja na América era excelente na virada do século XIX e veio diminuindo desde então. Em vez disso, houveram várias tendências: algumas vezes a frequência aumentou, outras vezes diminuiu.

R. Kent Hughes, pastor, autor e professor, escreveu uma lista útil de tendências evangélicas anti-igreja por volta de 2003. Essas variações, ele disse, mostram que muitos dos que chamam a si mesmos de cristãos têm uma visão muito pequena da igreja e da membresia. A discussão de Hughes acerca deste tópico é muito perspicaz; abaixo irei resumir, explicar e expandir em cima dos insights dele, uma vez que ainda são relevantes hoje.

1. A Mentalidade de Mochileiro
Um mochileiro é uma pessoa que quer uma carona gratuita por um período limitado. Ele não é proprietário do carro, não cuida do carro nem ajuda a fazer manutenção; ele só quer uma carona e vai embora se qualquer coisa der errado ou se sua carona chegar onde ele quer. É assim que muitas pessoas pensam da igreja e da membresia:

Você vai às reuniões e serve nos conselhos e comitês, você luta com as questões e faz o trabalho da igreja e paga as contas – e eu venho junto de carona. Mas se as coisas não funcionarem pra mim, eu vou criticar e reclamar e provavelmente pular fora. Meu polegar está sempre pronto pra pegar uma carona melhor.[1]

Muitos cristãos hoje têm uma mentalidade de só ir ficando na igreja por um tempo e depois sair quando eles sentirem vontade. Eles não se envolvem na vida da igreja; eles não doam seu tempo e energia; eles nunca perguntam o que podem fazer pra ajudar; eles não investem suas vidas na igreja. Eles são irresponsáveis e imaturos neste aspecto de suas vidas, e têm um conceito baixo de dever ou serviço.

2. Cristãos Consumidores
Estes são

compradores eclesiásticos [que] frequentam uma igreja pela pregação, mandam seus filhos para uma segunda igreja pela programação de jovens, e vão ao pequeno grupo de uma terceira igreja. Seu lema é perguntar “O que tem aí pra mim?”
A mentalidade do consumidor “encorajou aqueles que foram influenciados a pensar naturalmente em termos de receber em vez de contribuir.”[2]

São o tipo de gente que quer pegar da igreja, mas nunca quer dar. Igrejas pra essas pessoas são uma commodity que existe para oferecê-los algo que eles querem ou precisam.

Esta visão – uma visão de consumidor da igreja – é uma característica da mentalidade de direitos de nossa cultura. Todo mundo – especialmente os mais jovens – acredita ter certos direitos e benefícios, como se eles fossem a realeza a ser servida. O cliente tem sempre razão! Esta visão se arrastou para dentro da igreja: “Se a igreja não me serve ou não serve para mim, estou fora. Se minhas necessidades não são atendidas, eu vou em outra igreja.” O consumismo eclesiástico e a mentalidade de direitos trabalham juntas para formar esta tendência evangélica anti-igreja. E é claro, há algumas igrejas que fortalecem esta tendência usando métodos de crescimento de igreja voltados ao consumidor.

3. Cristãos espectadores

Cristianismo espectador se alimenta da ilusão de que a virtude vem de ver, assim como o fã de futebol que imagina que ele recebe força e coragem ao assistir seu time profissional favorito. O espectador de esportes e o cristão espectador produzem as mesmas coisas – fãs que torcem pelos jogadores enquanto eles mesmos passam uma necessidade desesperada de compromisso e significado.[3]

Aqui estão as pessoas que gostam de sentar preguiçosamente nas arquibancadas mas não querem entrar no jogo. O assento na arquibancada é bom o suficiente para eles, pensando (de maneira implícita ou explícita) que podem “pegar” a fé cristã ao assistir dos bancos e não se comprometendo a pisar no campo. Em outras palavras, essas são as pessoas que estão contentes em observarem outros seguirem Cristo, mas elas mesmas nunca o seguem de verdade. Estão vendo os outros se sentirem bem a respeito da vida ou de si mesmos, mas nunca aprendem como morrer para si e viver para Cristo.


4. Cristãos Drive-Through

O drive-through de um restaurante fast-food é o meio de conseguir comida (insalubre) sem perder tempo e sem muito esforço. Quando estamos apressados, só queremos rapidamente comer alguma coisa que tenha um gosto bom e então seguir com nossos negócios urgentes. O resultado desse tipo de estilo de vida não é bom: ele deixa para trás pessoas sem saúde e com sobrepeso, além de estressadas porque vivem vidas tão ocupadas.

Algo parecido acontece quando uma pessoa vê a igreja como um restaurante fast-food: as pessoas que pensam assim

resolvem seu “problema de igreja” indo a um culto de noite durante a semana ou ao culto mais curto no domingo de manhã e assim a família pode guardar a maior parte do domingo para o todo-importante jogo de futebol ou viagem recreativa. Claro que há um triste preço que será cobrado ao longo do tempo nos hábitos e nas artérias de uma alma flácida – uma família que não está em forma para as batalhas da vida e não tem um conceito de serem soldados cristãos em meio à grande batalha espiritual.[4]

5. Cristãos Sem-Relacionamentos

Apesar da ênfase da Bíblia em os crentes não deixarem de congregar regularmente para adoração e comunhão, hoje algumas pessoas dizem “a melhor igreja é aquela que te conhece menos e que te pede menos.”[5]

Esse pensamento anda de mãos dadas com as tendências já mencionadas. Pessoas que querem carona na vida da igreja – jogando conversa fora com o motorista mas nunca conhecendo-o pessoalmente. Para muita gente, o jogo de futebol ou as férias são mais importantes que o pessoal na igreja, então porque se importar em começar a ter relacionamentos dentro da igreja?

Isso se torna evidente quando as pessoas rejeitam a ideia de membresia. Pouca gente aprecia a membresia na igreja hoje porque isso vai contra seu desejo egoísta de estar por conta própria, isso significa que eles devem prestar contas a outros, e isso significa que eles precisam dividir suas vidas e ajudar outros quando for preciso. Para a maioria das pessoas, é muito mais satisfatório ir ver um filme sexta à noite do que ajudar uma família da igreja a se mudar pra um apartamento no centro da cidade.

6. Adoradores Desigrejados
Esta tendência também é comum, uma vez que muita gente hoje pensa que pode adorar a Deus sozinha, por conta própria, quando for mais conveniente e útil para eles. Pra que acordar cedo no domingo e ir a um lugar onde tem um monte de estranhos quando eu posso dormir um pouco mais e adorar a Deus enquanto assisto meu jogo de futebol sozinho? Embora esta linha de pensamento seja completamente antibíblica, é bem comum hoje. Hughes colocou desta forma:

O mito atual é que uma vida de adoração é possível, ou até melhor, longe da igreja. Como uma pessoa alegremente expressou:“De ‘igreja’ eu vou ao meu café preferido e gasto minha manhã com o Senhor. É assim que eu adoro.” Esta é uma atualização suburbana e yuppie de como gastar o Domingo, alterada de seu rústico ancestral [a saber, Emily Dickinson, que disse 100 anos atrás]: “Alguns guardam o Sabbath indo à igreja – eu o guardo ficando em casa.” [6]

Hughes está certo a respeito dessas tendências; eu mesmo já as vi desde que me tornei pastor há alguns anos. O ethos da cultura americana (consumismo, individualismo, narcisismo, aversão à autoridade, um desejo desenfreado por entretenimento e diversão, estar sempre ocupado, etc) contradiz diretamente o ethos da visão bíblica da igreja. Estão bem em desacordo.

É útil pensar sobre as tendências acima por causa das seguintes razões: 1) para que nós não sejamos pegos por elas, 2) para que possamos entender a mentalidade daqueles que foram pegos nelas, 3) para que possamos pacientemente dialogar, conversar, ensinar, repreender e pregar para aqueles que estão lutando com essas tendências, 4) para que possamos ajudar a manter a igreja livre de atender estas tendências e 5) para que possamos pregar melhor o evangelho que liberta as pessoas de todos esses ismos (narcisismo, consumismo, individualismo, etc).

Já que este é o ar cultural que todos nós respiramos, cada um de nós precisa ser constantemente lembrado da visão bíblica da igreja, e do amoroso e paciente Salvador que é nosso o cabeça, marido e redentor.


Notas
[1] R. Kent Hughes, Set Apart: Calling a Worldly Church to a Godly Life (Wheaton: Crossway, 2003), 128.
[2] Ibid., 129.
[3] Ibid.
[4] Ibid.
[5] Ibid.
[6] Ibid., 130.

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