Depressão e ansiedade entre jovens e adolescentes
Para usar um exemplo, recentemente fui convidado para pregar em um acampamento de jovens e para a minha surpresa o tema que pediram para eu falar foi exatamente esse, depressão e ansiedade. Fiquei surpreso. O meu primeiro pensamento ao receber o convite foi: “eu estou indo falar para um público tão jovem, não é possível que eles têm lutado desde cedo com isso...”. Eu e um amigo pastor pregamos sete vezes e fizemos uma mesa redonda sobre o tema. As perguntas que eram feitas, penetravam meu coração. Querendo admitir ou não, isso é uma realidade, inclusive dentro das igrejas cristãs.
Um dos livros que me ajudou muito a pensar melhor sobre esse assunto, principalmente em como ajudar pessoas nessa área, é o livro “depressão espiritual” de Martyn Lloyd Jones. Escrito na década de sessenta, Lloyd Jones usa uma abordagem puritana para o tema. Sua preocupação inicial são as causas de uma depressão. Por mais que ele use palavras diferentes, basicamente ele repete a tríplice puritana (causas): causas circunstâncias, constituição física (temperamentos) e causas espirituais (ataques do diabo e principalmente incredulidade). Um outro livro que aborda essas três causas, usando a vida do famoso pregador inglês do século XIX Charles Haddon Spurgeon, é “A depressão de Spurgeon: a esperança realista em meio a angustia”, de Zack Esmine. Poderíamos nos estender falando sobre essas causas, mas uma pergunta sincera deve ser feita: quais seriam as causas circunstâncias, ou a principal circunstância, que tem causado esse quadro depressivo em nossos adolescentes e jovens? Podemos pensar em diferentes respostas, mas há uma que podemos sugerir fortemente: o uso excessivo de smartphones e mídias digitais, como mídias sociais, mensagens de texto e jogos.
Nossos jovens têm experimentado um novo fenômeno, se relacionam mais com a tecnologia do que com pessoas, esse fato já está comprovado em pesquisas e livros. É por isso que Jean M. Twenge (psicóloga, escritora, PhD e professora de psicologia na Universidade Estadual de San Diego) nomeou essa geração que nasceu entre 1995 e 2012 de “iGen”. Em linhas gerais, “iGen” é a primeira geração a passar toda a adolescência na era do smartphone (por isso o nome de “iGen” – “i” de “Iphone” e “internet”). As mídias sociais e mensagens de texto substituíram as demais atividades. Embora valorizem a amizade, são os que menos passam tempo pessoalmente com amigos. Consequentemente os níveis de ansiedade, depressão, pensamentos suicidas e solidão são supreendentemente altos!
Vejam os dados alarmantes da pesquisa realizada pelo órgão de Pesquisa Nacional Americano sobre uso de drogas e saúde (NSDUH):
De 2009 a 2017, a depressão grave entre jovens de 20 a 21 anos, dobrou, subindo de 7% para 15%. Entre os adolescentes de 16 a 17 anos de idade, a depressão subiu 69%. O sofrimento psicológico grave, que inclui sentimentos de ansiedade e desesperança, aumentou em 71% entre os jovens de 18 a 25 anos de 2008 a 2017. Duas vezes mais, jovens entre 22 e 23 anos, tentaram o suicídio em 2017 em comparação com 2008 e 55% a mais tinham pensamentos suicidas. Os aumentos foram mais notáveis entre meninas e mulheres jovens. Em 2017, uma em cada cinco meninas de 12 a 17 anos, havia sofrido depressão grave no ano anterior.
Após analisar as possíveis causas para esse aumento de doenças mentais como, uma economia ruim, perda de emprego e pressão acadêmica (causas típicas), Jean Twenge acredita que uma das principais causas é o excesso de interatividade com a tecnologia, principalmente celulares, o grande vilão. Juntamente com outros psicólogos, Jean tem usado de outras fontes confiáveis de pesquisas americanas e tem analisado desde 2011 comportamentos de adolescentes e jovens (13-17 anos):
“Todos os anos os adolescentes são questionados sobre sua felicidade geral, além de como eles gastam seu tempo. Descobrimos que adolescentes que passavam mais tempo vendo seus amigos pessoalmente, se exercitando, praticando esportes, frequentando atividades religiosas, lendo ou mesmo fazendo lição de casa, eram mais felizes. No entanto, os adolescentes que passaram mais tempo na internet, jogando jogos de computador, em mídias sociais, mensagens de texto, usando vídeo-chamada ou assistindo TV, eram menos felizes. Em outras palavras, todas as atividades que não envolviam uma tela estavam associadas a mais felicidade e todas as atividades que envolviam uma tela estavam associadas a menos felicidade. As diferenças foram consideráveis: os adolescentes que passaram mais de cinco horas por dia online tiveram duas vezes mais chances de serem infelizes do que aqueles que passaram menos de uma hora por dia”.
Talvez pensemos que ninguém passaria cerca de “cinco horas por dia online”, mas não é isso que nos mostra uma reportagem realizada pela CNN americana. As crianças americanas, entre oito e doze anos, gastam em média nove horas em mídias sociais. As consequências na formação delas são drásticas, pois a maioria divide seu tempo de aprendizado e tarefas escolares com a interação em smartphones e tablets. Outras pesquisas demonstram que crianças que passam mais de duas horas por dia interagindo com seus celulares, tiveram resultados baixos em testes de linguagem e raciocínio. Mais preocupante ainda, exames de ressonância demonstraram que crianças que passam mais de sete horas por dia, apresentaram um afinamento prematuro no córtex cerebral. Teremos ainda que esperar algumas décadas para vermos as comprovações científicas desses estudos, mas esses indícios nos servem de alertas. Sem dúvida alguma, temos que considerar essa “causa circunstancial” para as crises emocionais e distúrbios psicológicos (embora existam outras).
O meu objetivo com esse artigo não é trazer conclusões nem soluções precipitadas, mas pelo menos despertar o interesse em uma maior investigação sobre essa “possível causa” para as ansiedades, crises e depressões em nossos adolescentes e jovens. Essa é a minha obrigação como pastor e acredito de todo cristão que é chamado a “aconselhar uns aos outros” (Cl 3.16).
Autor: Thiago Guerra
Fonte: Voltemos ao Evangelho
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