Você conhece as boas novas?

Você conhece as boas novas?

Quando era criança gostava muito de um doce chamado marmelada¹, durante algum tempo procurei nos supermercados, mas faz algum tempo que tomei consciência de que estes doces assim como muitas coisas do “meu tempo” não existem mais, isso infelizmente se aplica também a igreja, muitas das práticas comuns à igreja no passado, hoje já não existem. Uma das práticas que a igreja moderna tem perdido é o evangelismo que quando ocorre parece sem efeito, quando se fala em evangelização a igreja entra em crise perguntando “De que forma conseguiremos transmitir o evangelho a esse mundo pós-moderno? ”.

Martyn Lloyd-Jones em de seus sermões fala sobre Marcos 9, em que Jesus deixa o monte da transfiguração e encontra seus discípulos tentando expulsar um demônio de um menino. Depois que Jesus liberta o menino da presença demoníaca, os discípulos lhe perguntam: “Por que não pudemos nós expulsar? ”. E Jesus responde: “Esta casta não pode sair com coisa alguma, a não ser com oração e jejum” (Mc 9:28,29). Jesus estava ensinando a seus discípulos que seus métodos usuais não funcionariam com “esta casta”.

 

“Aqui neste menino vejo o mundo moderno, e nos discípulos posso ver a igreja(…) Percebo claramente uma diferença entre hoje e alguns anos atrás. A dificuldade naqueles tempos era o fato de que homens e mulheres estavam adormecido (…) não havia uma negação generalizada da verdade cristã. O fato era apenas que o povo não se preocupava em praticá-la (…) Tudo que você teria que fazer, seria despertá-los e incitá-los (…), mas a pergunta é se esta ainda é a situação (…) Qual é “esta casta”? (…) O tipo de problema que enfrentamos é muito mais profundo e desesperador (…) A fé em Deus praticamente desapareceu. O homem de hoje acredita que toda essa crença em Deus, na religião e na salvação (…) esteve incubada na natureza humana por todos os séculos (…) já não é mais meramente uma questão de imoralidade. A sociedade se tornou amoral. A própria categoria de moralidade não é reconhecida (…)

Em outras palavras, Jesus está dizendo, o demônio está forte demais para a maneira comum pela qual vocês desempenham o ministério.

A inoculação² introduz uma forma branda de uma doença em corpo, estimulando, desta forma, o crescimento de anticorpos e tornado a pessoa imune a contrair uma versão plena da doença. Da mesma maneira a sociedade pós-cristã contém exclusiva resistência e anticorpos contra o cristianismo pleno.

Hoje em nossas igrejas muitos nunca entenderam as boas novas do evangelho, tem uma visão distorcida do evangelho e por isso vivem um cristianismo inoperante, outros pela forma que vivem, se algum dia entenderem, tem vergonha de anunciar as boas novas. Ambas as situações são contrárias ao ensino de Paulo:

 “Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro do judeu, depois do grego. Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: “O justo viverá pela fé”. Romanos 1:16,17

A compreensão errada do que são as “BOAS NOVAS” do Senhor, tem trazido deformidade a comunidade cristã de forma geral.

Mas o que de fato são as boas novas? Elas são que “eu estou bem”? Ou, que Deus é amor? Ou, que Jesus é meu amigo? Ou, que devo me endireitar e começar a viver corretamente?

A palavra “evangelho”, (ευαγγέλιο) euaggelion em grego, significa simplesmente “boa notícia”.

AS BOAS NOVAS NÃO SÃO APENAS QUE TUDO ESTÁ BEM CONOSCO

Algumas pessoas acreditam que tudo que precisamos fazer para ser um autêntico cristão, é frequentar os cultos e está com o nome no rol de membros de uma igreja, há ainda outras que parecem imaginar que o cristianismo é uma sessão de terapia religiosa, na qual nos assentamos e procuramos ajudar uns outros a nos sentirmos melhor a respeito de nós mesmos. Para essas pessoas, os bancos são divãs, o pregador faz perguntas, e o texto a ser exposto é o próprio ego do ouvinte. Se o cristianismo é isso, por que depois de havermos sondado as profundezas da nossa alma, ainda continuamos a nos sentir vazios? Ou sujos? Existe algo a respeito de nós e de nossa vida que está incompleto ou errado!

A bíblia rejeita completamente a ideia de que estamos bem, que a condição do homem é excelente, que a pessoa tem apenas necessidades de aceitar sua condição presente, sua finitude, sua limitação, suas imperfeições, ou que precisamos somente ver o lado bom das coisas.

Na verdade, de acordo com Jesus, nosso pecado é tão sério que precisamos de uma vida nova (João 3); e de acordo com Paulo, precisamos ser criados de novo (1 Coríntios 15), porque estamos mortos em nosso delitos e pecados (Efésios 2).

Tiago (Tiago 2) nos ensina que a lei de Deus não é apenas um conjunto de normativas, onde podemos em algum tempo deixar de cumprir. Não podemos imaginar que podemos cumprir esse ou aquele mandamento e não cumprir outro. Tiago mais uma vez diz que transgredirmos uma só das leis de Deus, vivemos contrário a Deus.

 “Pois quem obedece a toda a Lei, mas tropeça em apenas um ponto, torna-se culpado de quebrá-la inteiramente”. (Tiago 2:10)

Não podemos dizer que somos cristãos e, ao mesmo tempo, quebrar de modo consciente, alegre e repetitivo os princípios de Deus. Quebramos frequentemente os princípios de Deus, porque, como Paulo nos recorda, estamos mortos em delitos e pecados (Efésios 2).

Tudo isso parece bastante cruel para estar, de algum modo relacionado àquilo que chamamos de “boas novas”. Mas, não há dúvidas de que uma compreensão exata da situação em que  estamos é fundamental para que cheguemos onde precisamos estar. Um dos primeiros estágios para se tornar um cristão envolve a compreensão de nossos problemas fundamentais não são que bagunçamos nossa própria vida ou que não compreendemos nosso próprio potencial, e sim que temos PECADO, não primariamente contra nós mesmo, e sim contra Deus. Por causa disso, agora começamos a perceber que somos, com justiça o objeto da ira de Deus e do seu juízo. Isso é que chamamos de depravação total.

O verdadeiro cristianismo é realista quanto ao lado obscuro de nosso mundo, nossa vida, nosso coração. No entanto, o verdadeiro cristianismo não é pessimista por completo ou moralmente apático, encorajando-nos apenas a assentar-nos e aceitar a verdade a respeito de nosso estado decaído. A boas notícias que nós cristãos temos de anunciar, não é somente que nossa depravação, nossos pecados nos levarão a morte, mas que o dom gratuito de Deus nos alcança e regenera, nos dando não uma vida melhor, mas uma vida completamente nova por meio do sangue carmezim. Quando começamos a compreender isso, nos tornamos agradecidos pelo fato de que o cristianismo não é uma mensagem que anestesia as dores de nossa vida, não é uma mensagem que nos desperta para esta vida e não é uma mensagem que nos ensina a viver bem. As boas novas de Cristo nos ensinam a viver com anseio por transformação, as boas novas nos ensinam a buscar uma fé crescente, uma esperança firme e segura quanto ao que há de vir. O evangelho não uma mensagem que nos diz que estamos bem, mas uma exortação³ a vivermos uma vida santa que glorifica ao Senhor todos os dias.

AS BOAS NOVAS NÃO SÃO APENAS QUE DEUS É AMOR

Por vezes ouvimos que o evangelho é que “Deus é amor”, embora a bíblia afirme que Deus é amor (1 João 4:8), essa não é toda a verdade. Um pai que realmente ama seu filho não deixará por amor, que ele faça tudo que deseja, um pai por amor, repreenderá seu filho sempre que for necessário, de fato às vezes o amor previne, às vezes pune.

“Vocês se esqueceram da palavra de ânimo que ele lhes dirige como a filhos: “Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor, nem se magoe com a sua repreensão, pois o Senhor disciplina a quem ama, e castiga todo aquele a quem aceita como filho”. Suportem as dificuldades, recebendo-as como disciplina; Deus os trata como filhos. Pois, qual o filho que não é disciplinado por seu pai? Se vocês não são disciplinados, e a disciplina é para todos os filhos, então vocês não são filhos legítimos, mas sim ilegítimos”. (Hebreus 12:5-8)

Quando dizemos: “Deus é amor”, o que realmente pensamos sobre o amor divino? Amor é tudo que a bíblia diz que Deus é? A bíblia que é uma auto revelação de Deus, apresenta outras qualidades além de amor. A bíblia diz que Deus exige santidade de todos os que desejam ter um relacionamento de amor com Ele, conforme a bíblia diz:

 

“Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”. (Hebreus 12:14)

É somente nesse entendimento sobre o caráter de Deus, de sua justiça e perfeição que começamos a entender a profundidade do significado de uma afirmação como: “Deus é amor”. Quando entendemos a grandeza de Deus, e que seu amor possui uma consistência, esse entendimento transforma nossa mente mudando nossas ações, nos aproximando de uma Deus Pai, que embora nos ame, também nos corrige, entendemos que seu amor é justo, santo e não há variações n´Ele.

O evangelho não apenas a mensagem de que Deus é amor

AS BOAS NOVAS NÃO SÃO APENAS QUE JESUS QUER SER NOSSO AMIGO

Algumas vezes o evangelho é apresentado apenas como a mensagem de que “Jesus quer ser nosso amigo” ou de que Ele quer ser um exemplo para nós. No entanto, o evangelho cristão não é apenas uma questão de cultivar um relacionamento ou seguir um exemplo. Temos um passado e temos que nos acertar com ele, temos em nosso currículo o pecado. Se Ele deseja que O conheçamos, como Ele pode resolver esta situação sem comprometer sua própria santidade? Apenas nos fará saber que nosso pecado contra Ele não é muito importante? Jesus torna-se amigo daqueles que O tem como seu Senhor e Salvador, a centralidade dos 4 evangelhos é a cruz, mas o que isso significa? Por que algo tão terrível seria o centro de algo chamado “boas novas”? A resposta é a cruz é o caminho de Deus para nos trazer de volta a Ele mesmo.

“Mas agora, em Cristo Jesus, vocês, que antes estavam longe, foram aproximados mediante o sangue de Cristo”. (Efésios 2:13)

Por tanto as boas novas dizem respeito a nossa condição, que agora fomos redimidos, fomos comprados da escravidão do pecado. A morte de Cristo na cruz foi o preço pela nossa libertação do pecado. A morte de Cristo foi o meio de Deus redimir-nos de nossa condição de morte, esta é a boa nova.

Por meio da cruz é garantida nossa liberdade, Cristo nos reconciliou com o Pai, a obra de Cristo é descrita como uma propiciação, uma satisfação da ira justa de Deus contra as pessoas por causa dos seus pecados. Agora Ele pode lidar com os pecadores corretamente em termos de amor, não em termos de ira, esse benefício só foi possível, porque Jesus foi morto na cruz e ressuscitou ao terceiro dia.

Perceba então que Jesus não é só nosso amigo, mas Senhor e Salvador. Usar esse título (amigo) como supremo, é ofertar a Deus um louvor débil. Cristo até é nosso amigo, mas antes disso, e assim precisa ser apresentado, é o Senhor das nossas vidas, nosso único e suficiente salvador,  é cordeiro pascal que tirou o pecado do mundo, é nosso redentor, aquele que trouxe a paz entre nós e Deus, aquele que tomou sobre Si mesmo nossa culpa, aquele que venceu nossos inimigos espirituais e aplacou a ira merecida de Deus, aquele que sentou no trono celestial e tem o poder supremo sobre a morte, aquele que um dia voltará para resgatar sua igreja, esse é o Jesus apresentado nas “boas novas”.

AS BOAS NOVAS NÃO SÃO APENAS QUE DEVEMOS VIVER CORRETAMENTE

Um erro muito comum é a ideia de que as “boas novas” nos dizem apenas que devemos começar a viver corretamente. Nesse sentido, o evangelho é apresentado apenas como um conjunto de virtudes que devemos praticar. As “boas novas” não dizem respeito fundamentalmente a essas coisas. O evangelho exige uma resposta radical, não é apenas para tornar nossas vidas melhores. O evangelho é uma mensagem de maravilhosas boas novas para aqueles que reconhecem Jesus como seu Senhor e Salvador.

O que o evangelho exige? Arrepender-se e Crer. Deus nos chama ao arrependimento de nossos pecados e crer somente em Cristo.

ARREPENDIMENTO

“Testifiquei, tanto a judeus como a gregos, que eles precisam converter-se a Deus com arrependimento e fé em nosso Senhor Jesus”. (Atos 20:21)

Esta é a mensagem encontrada em todo o novo testamento. Uma vez que tenhamos ouvido a verdade acerca de nosso estado, da santidade de Deus, do seu amor ao enviar a Cristo, da morte vicária de Cristo e sua ressurreição, devemos dar uma resposta. A resposta não é apenas preencher uma ficha de membro, não é levantar a mão, não é apenas batizar-se, não é apenas ter um acento cativo nos culto regulares de uma igreja, a resposta às boas novas é ARREPENDER-SE e CRER, e assim ter uma mudança radical no entendimento e uma transformação no agir, por isso Paulo disse:

“Assim, eu lhes digo, e no Senhor insisto, que não vivam mais como os gentios, que vivem na futilidade dos seus pensamentos. Eles estão obscurecidos no entendimento e separados da vida de Deus por causa da ignorância em que estão, devido ao endurecimento dos seus corações. Tendo perdido toda a sensibilidade, ele se entregaram à depravação, cometendo com avidez toda espécie de impureza. Todavia, não foi assim que vocês aprenderam de Cristo. De fato, vocês ouviram falar dele, e nele foram ensinados de acordo com a verdade que está em Jesus. Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade. Portanto, cada um de vocês deve abandonar a mentira e falar a verdade ao seu próximo, pois todos somos membros de um mesmo corpo. “Quando vocês ficarem irados, não pequem”. Apaziguem a sua ira antes que o sol se ponha, e não deem lugar ao diabo. O que furtava não furte mais; antes trabalhe, fazendo algo de útil com as mãos, para que tenha o que repartir com quem estiver em necessidade. Nenhuma palavra torpe saia da boca de vocês, mas apenas a que for útil para edificar os outros, conforme a necessidade, para que conceda graça aos que a ouvem. Não entristeçam o Espírito Santo de Deus, com o qual vocês foram selados para o dia da redenção”. (Efésios 4:17-30)

Com o arrependimento vem a fé. O crer que Jesus recomenda não é um mero sentimento intelectual, crer é também descansar plenamente nas boas novas de salvação. Crer exige não somente fé, mas também arrependimento. Exige mudança de vida e não apenas algumas mudanças na vida, nossa vida deve mudar e não apenas algumas áreas da nossa vida. J. C. Ryle disse:

 “Nestes dias, há um tipo mundano de cristianismo bastante comum que muitos têm, um cristianismo barato que não ofende ninguém e não exige qualquer sacrifício, que não custa nem vale nada”

Fé sem uma mudança completa em todas as áreas da vida, é ilusão, pode ser religião, mas não é cristianismo. O verdadeiro cristianismo nunca é um simples acréscimo, não é um mero cultivo de boas práticas. Dizer que crer, sem viver como deveria, não é crer no mesmo sentido bíblico, assim, se não crer no sentido bíblico, não há as consequências previstas ao que crer, logo continua em seu estado de morte. As boas novas do cristianismo têm conteúdo especifico. Não é um estimulo religioso.

Já ouvimos o evangelho, as boas nova? Cremos nele de todo o coração ou estamos brincando de cristianismo? Ouvir realmente o evangelho significa ser completamente abalado, resultando em profundas e significativas mudanças. Você já ouviu o evangelho? Não uma mensagem agradável a respeito de riquezas, ou da inofensiva disposição de Jesus querer ser amigo de todos, ou do grande amor de aceitação de Deus, mas você já ouviu a grande mensagem da bíblia a respeito de Deus e de nós? Ela parece a melhor notícia que você já ouviu?

Pr. Franco Júnior
Soli Deo gloria

0 respostas

Deixe uma resposta

Want to join the discussion?
Feel free to contribute!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *